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narrado por ANDRÉIA
Meus pais são pais amorosos, e tenho certeza que toda a educação que nos deram foi pensando no melhor para nós. Batizei-me aos 10 anos, junto com minha irmã de 11, em um congresso de Distrito em Belo Horizonte. Sempre fui zelosa, me esforçava para ser uma TJ perfeita. Hoje luto contra traumas emocionais profundos em decorrência da rígida formação como TJ. Hoje sofro profundamente por ter me desligado da Organização enquanto minha mãe, meu pai, minhas duas irmãs e meu irmão caçula ainda são TJ. Sou casada, tenho uma filha de um ano e sempre que visito meus pais, vejo o olhar triste do meu pai para mim e minha filha e sofro sabendo o quanto ele sofre por imaginar que não estaremos com ele no Novo Mundo... Como me dói saber que meus pais sofrem por me considerar morta... Um dia, logo quando comecei a duvidar, quando disse a meu pai que não tinha certeza se era realmente ser TJ o que
eu queria, minha família foi à reunião e eu fiquei em casa, me sentindo
péssima. Quando eles chegaram, meu irmãozinho, então com uns nove anos, abriu
a porta do quarto e me disse com os olhos cheios de lágrimas: - "Se você
deixar a religião eu nunca mais falo com você". Aquilo foi como uma faca
no meu coração, eu e ele tínhamos uma relação de tanto amor... eu era (e
sou) apaixonada pelo meu irmão, e hoje somos como dois estranhos...
Ontem, no fim do dia estava sem fazer nada no trabalho, e comecei a pensar Aos 17 anos, depois de terminar o 2º grau, disse aos meus pais que queria fazer faculdade, eles acabaram concordando, desde que minha irmã fosse fazer o mesmo curso, e este curso fosse na faculdade que fica em uma cidade próxima à cidade onde eles moram. Fizemos o vestibular, passamos e fomos estudar. Durante a semana freqüentávamos as reuniões na cidade onde estudávamos e todos os fins de semana íamos para casa, e freqüentávamos a congregação de meus pais. Apesar de todos os esforços comecei a perceber que todos, nas duas congregações, nos tratavam como se fôssemos uma espécie de leprosos, pessoas com quem não era saudável conviver. Nesta mesma época meu pai perdeu o cargo de ancião (cargo que ele ocupou por mais de 20 anos) porque minha irmã se envolveu em namoro com um "mundano". Depois disso ela resolveu largar a faculdade, para se afastar do rapaz. Eu insisti em continuar, eu tinha muita fome de saber, vontade de continuar estudando, e continuei.
Aquelas pessoas tinham menos maldade no coração do que muitos "irmãos", que passavam por
mim na rua e viravam as caras, mesmo enquanto eu ainda freqüentava as reuniões,
ia ao serviço de campo, tudo certinho...
Foi aí que eu criei coragem para aceitar ouvir destas pessoas porque elas Só quem já foi TJ pode entender o que isso significou em minha vida, na vida da minha família. Meu pai disse que jamais permitiria que outro filho fizesse faculdade, entre outros absurdos mais. Uma semana depois fui surpreendida ao ser convidada para uma conversa com os anciãos, que na verdade era uma comissão judicativa. Eles me interrogaram sobre minha relação com meu namorado, se tínhamos fornicado, se eu tinha medo de admitir isso e era por isso que eu queria sair. Eu deixei bem claros os motivos pelos quais EU NÃO QUERIA MAIS SER TJ, e que minha vida sexual se existia ou não era um assunto pessoal meu, do qual eu não iria falar com eles. Alguns dias depois, minha irmã me chamou para uma conversa entre irmãs, amigas que éramos, e eu então lhe disse que eu não era mais virgem. Dali ela foi diretamente falar para o meu pai (algo completamente desnecessário, eu já tinha 21 anos, sabia perfeitamente o que fazia com minha vida, e não queria mais este conflito com meu pai). O que aconteceu depois disso não sei exatamente, só sei que ao invés de ser dissociada como eu havia pedido, o anúncio foi dado nas congregações como desassociação. Incrível! Eu fui expulsa de um lugar de onde eu havia pedido para sair!!! A humilhação para mim e para minha família foi maior assim... Isto foi em 1997. Até hoje tenho pesadelos com o Armagedon! Hoje eu sou uma mulher de 27 anos, casada, tenho uma filha, um emprego público federal, que consegui em um concurso com mais de 180.000 inscritos em todo o país, e não consigo sequer comprar roupas para mim sozinha... Parece que uma coisa não tem relação com a outra, mais tem tudo a ver... Eu tenho dificuldades em me relacionar com as pessoas em meu trabalho, em minha vizinhança, sou ansiosa, me sinto inadequada em qualquer círculo social. POR QUE? Passei esta noite acordada e relembrando minha infância e adolescência... Foi doloroso... Doeu recordar como eu me sentia, sozinha em um canto na hora do recreio, na escola, porque eu não podia me relacionar com "mundanos"... a vergonha que eu sentia quando era aniversário de algum coleguinha do jardim de infância e eu ficava sentada e calada enquanto meus colegas cantavam parabéns... a ansiedade que eu sentia na 1ª série, quando eu sabia que haveria aula de Religião e que eu tinha que me levantar e sair da sala, ia para a sala da diretora, morrendo de medo e vergonha... Lembrei-me de quando os colegas me perguntavam o que eu ia ganhar no Natal, e eu tinha que dizer que na minha casa não tinha Natal, "Jeová não gostava de Natal"...
Hoje posso admitir para mim mesma que era constrangedor quando eu entrava Sei que meus pais tinham as melhores das intenções, mas hoje tenho consciência de quanto o esforço para não fazer parte do mundo pode ser grande demais para uma criança.
Há alguns meses minha irmã caçula veio me fazer umas perguntas sobre minha
Ainda ontem falei com ela ao telefone e ela me disse que também não quer Andréia
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