Testemunhas de Jeová Contestárias Pedem
Explicações Por ANTÓNIO
MARUJO Domingo, 20 de Janeiro de 2002
Mais de mil cartas
foram enviadas de Espanha
Em causa está "hipocrisia" da liderança das TJ em relação
às Nações Unidas
Quase 1200 pessoas que hoje participam numa reunião de anciãos
(responsáveis locais) das Testemuhas de Jeová receberam esta semana
uma carta enviada de Espanha por críticos internos, contestanto a
actuação da liderança deste grupo religioso, no que diz respeito a
uma inscrição nas Nações Unidas. Conforme o PÚBLICO noticiou em
Outubro último, a Sociedade Torre de Vigia (STV), o órgão dirigente
das TJ a nível mundial, esteve inscrito durante 10 anos num
organismo das Nações Unidas, organização que é designada em
publicações do grupo como "a coisa repugnante" e a "besta escarlate"
referidas no livro bíblico do Apocalipse (ou "Revelação").
As cartas enviadas de Espanha - a cujo conteúdo o PÚBLICO teve
acesso através de informação que circula na internet e cuja
autenticidade foi possível confirmar - foram dirigidas a anciãos e
"salões do reino" (a designação das comunidades locais das TJ) da
Alemanha, Suíça e Áustria. De acordo com as informações recolhidas,
a remessa das cartas foi feita por várias dezenas de pessoas,
algumas das quais também anciãos, ou seja, detentores de cargos com
responsabilidade local dentro das Testemunhas de Jeová.
Entre os destinatários, estão mais de 160 mil TJ, reunidos em
2150 congregações, de acordo com números da "Sentinela" citados na
informação deste grupo de críticos
De acordo com o texto da carta, os remetentes - cujas vozes
críticas têm considerado a inscrição na ONU como uma "hipocrisia" -
pedem que os anciãos perguntem aos responsáveis que estarão
presentes na reunião porque é que a STV não informou ninguém sobre a
inscrição na ONU, em qualquer uma das três publicações regulares -
"A Sentinela", "Despertai" e "Ministério do Reino" - e durante os 10
anos em que a inscrição esteve efectiva. Também sugerem que se
pergunte porquê, perante as inúmeras cartas de membros das TJ a
perguntar o que se passava, a resposta era sempre lacónica,
sugerindo depois uma "conversa; com o corpo local de anciãos.
A reunião de hoje é uma "escola" de anciãos, ou seja, uma acção
de formação destes responsáveis locais. Em princípio, participam
praticamente todos os anciãos da Alemanha e alguns de fala alemã
oriundos da Suíça e da Áustria, num total que deve situar-se entre
os seis mil e os nove mil participantes. De acordo com a dinâmica do
encontro, os participantes ouvirão uma sucessão de discursos, que
tratam essencialmente de questões jurídicas. Mas os remetentes da
carta crítica esperam que, nos intervalos, alguns deles ousem fazer
perguntas aos mais responsáveis.
Na carta que convocava este encontro da Alemanha, os críticos
recordam que era dito por duas vezes que não se podia gravar, de
nenhuma forma, os discursos da "escola de anciãos".
A inscrição no Departamento de Informação Pública (DPI) da ONU
foi feita em 1991, ficando registada no leque de organizações
não-governamentais disponíveis para colaborar com as Nações Unidas.
De acordo as declarações do porta-voz das TJ em Portugal, Pedro
Candeias, em Outubro, ela foi justificada "por causa de poder dar
ajuda humanitária e defender os direitos humanos em diversos países
do mundo". Mas terá sido, dizem os críticos, apenas perante a
divulgação pública da informação, que a STV decidiu desvincular-se
daquele registo no início de Outubro. E, pelos vistos, esses mesmos
grupos de contestários não está satisfeito com as explicações dadas
até agora pelos responsáveis.
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